Friday, June 29, 2012

Ballons

A semana passada fiz uma coisa que nunca tinha feito, fui a uma largada de balões. Há uma colega que mora numa cidade aqui perto, em que todos os anos há um festival de balões. Então, parece que é tradição toda a gente do lab ir para casa dela assistir. E eu lá fui, também. Foi bem engraçado, até pela possibilidade de estar com as pessoas fora do contexto de trabalho, o que não acontece tão frequentemente.
Havia um churrasco. Enfim, para os gaúchos não seria churrasco, mas para mim qualquer coisa feita no carvão e ao ar livre é churrasco. Também com a qualidade da carne aqui não vale a pena muito esforço. Mas eu achei super bom: hamburguer e peito de franco, eheheh. Só achei chato que não havia nenhuma sobremesa, mas tudo bem. Afinal, há que poupar as calorias.
Como em todo o lado em que há um grupo de adultos as conversas são as mesas, animais de estimação e a melhor escola de treino para os cães (aqui é-se considerado um dono negligente se o cão não frequenta a escola de socialização, como eles chamam. Segundo percebi essas escolas são quase tão competitivas como as de crianças), crianças, carros e por fim a conversa temática, já que se estava a ver balões. Quanto custa um balão (é caro para burro, parece que o mais básico é trinta mil dólares), a manutenção e, naturalmente, houve um espirituoso que largou a piada se alguém tivesse 30.000 dólares de sobra o que compraria. Um balão?! Bom, isso deu conversa até ao fim do dia, alimentados pelas margharitas já vêm!





Pelo fim começaram os balões. De início, veio um, depois, outro, depois outro e, de repente, começaram a vir um monte. Houve uma altura em que estavam 18 balões no céu. Eu achei lindo. Agora, é super rápido, eles sobem e descem em uns 40 minutos. Não entendo nada da coisa, mas pelo que me pareceu o pessoal não tem um grande controlo no balão, porque houve uns que foram super alto, outros que se aguentaram muito pouco tempo e começaram a descer e iam todos na mesma direcção, até parecia que iam chocar. Parece que há uns anos um caíu no lago da casa da Carolyn (a que nos convidou) e o filho dela estava torcer para que acontecesse de novo. Segundo ele foi o melhor ano, eheheh.

De volta!

Definitivamente, eu não sou a melhor pessoa para este tipo de actividades, como já deu para perceber. Não é que não aconteçam coisas, ou eu não tenha vontade de escrever, mas não me consigo organizar para o fazer. Acho que são os meus genes de Heitor, incompatíveis com organização. Ou seja, pensamento fértil, actividades imensas, mas dificuldade para concretizar tudo. Uma coisa boa desta estadia aqui, foi o combate aos genes  Heitor, provando que, neste caso, a interacção gene x ambiente resulta. Aprendi a ser mais minuciosa no que faço, a esforçar-me quando não sei, porque aqui ninguém pede ajuda. No entanto, toda essa mudança ainda não conseguiu produzir a disciplina de escrever diariamente. Quem sabe não é o próximo passo!
Hoje decidi-me! Estar sozinha também facilita. Sexta-feira ao fim do dia, um calor infernal, sem disposição para continuar o trabalho e sem companhia achei que seria uma boa dar uma actualizada aqui nas coisas.
Com a chegada do verão, enquanto o Cris ainda aqui estava, decidimos ir fazer um piquenique. Como seria previsível, já começamos com um problema. Na véspera fiz um iced-tea e pus no congelador para ficar bem fresquinho. Enchi a garrafa só até 3/4 para não explodir, mas óbvio que explodiu à mesma. Então, já começámos bem, sem nenhuma bebida, com 30º. Que óptimo! A sorte é que tinhamos bastante fruta, pepino, aipo e cenoura, bem fresquinhos o que minimizou o estrago. Também contou o Cris ser um bom feitio e não reclamar com nada, de tão empolgado que estava com o piquenique na floresta.

Chegámos ao destino. Ao fim de uns 30 minutos à procura de lugar para estacionar e estarmos completamente destilados conseguimos uma vaga. Ao sair do parque de estacionamento, tinha dois caminhos possíveis, um por onde ia toda a gente e outro por onde não ia ninguém. Por onde fomos? Pelo que não ia ninguém, claro! Não queremos fazer um piquenique no meio de toda a gente, evidentemente! O caminho era bonito, por baixo das árvores, mas entre o rio e uma linha de comboio por onde não passa comboio nenhum. Ao fim de 15 minutos a andar, sem a paisagem mudar, começamo-nos a questionar se estariamos bem, já que não havia nenhuma possibilidade de fazer o piquenique, a não ser se sentássemos no meio do caminho. No entanto, ponderámos que já andamos tanto, que seria uma estupidez voltar para trás e continuamos, sempre a char que depois da próxima curva a paisagem mudaria. Já conhecem o filme? Pois, não mudava. Ao fim de mais uns minutos bem largos vimos uma menina que já tinha passado por nós de bicicleta e estava a voltar. Começamos a questionar-nos se o caminho nos levaria a algum lado e decidimos voltar para trás. A esta altura óbvio que já estávamos esfomeados, transpiradíssimos, cansados, mas não desistimos. Vamos para o outro caminho! Quando começamos o outro caminho, vimos um mapa do parque e percebemos que o caminho onde estávamos anteriormente era a trilha de bicicletas, sem saída, claro! Começamos a trilha dos pedestres, desesperados por um lugar para sentar e comer. O Cris sonhava com uma mesa de piqueniques e não se conformava que ia comer no chão. Eu achava que esse nem era o problema, até prefiro à selvagem, porque essas mesas estão sempre cheias de famílias, a maior bagunça e a ideia era interagir com a natureza. Então, a toalha no chão era óptimo, mas tinha que haver chão, já que fora do caminho, não havia como sentar. Procuravamos uma clareira, onde pudessemos estender  toalha, comer, deitar com os nossos livros e fazer uma sesta, mas sem sucesso. Não encontrámos. Então, sentámo-nos na berma do caminho e comemos. Foi tão revoltante que nem tiramos fotografias. Mas o passeio foi super bonito. É bom para andar, não para fazer piquenique, foi a nossa conclusão.

Sunday, April 15, 2012

Pioneiros

Aqui em Ann Arbor tem um cinema antigo, ao qual nós gostamos bastante de ir, e há dias quando fomos lá entramos numa sala que presta homenagem aos fundadores da cidade e, claro, os doadores do cinema, ehhehe. Foi interessante ler as histórias e o mais curioso foi descobrir que a cidade foi fundada por alemães, tal como o Rio Grande do Sul. Achei curiosa a coincidência das duas cidades em que moro terem um ancestral comum. Não sei porquê essa descoberta fez-me sentir ligada à cidade e achar que a minha estadia aqui tinha um sentido maior do que eu imaginava, e que aqui eu tinha raízes comuns. Fez-me também sentir pioneira, sempre no rumo desses pioneiros...
O Cris anda a estudar os ancestrais da família dele e é impressionante ver como as histórias das pessoas de uma mesma época se cruzam e vidas de pessoas tão distintas acabam por ser comuns a tanta gente, envolvendo nações. Essas histórias fascinam-me porque dá para perceber que, no fundo, a humanidade não é muito diferente e que desde sempre as pessoas se movimentam atrás de objectivos muito comuns: uma casa, segurança e paz. Não sei porquê isso tranquiliza-me perante as incertezas do futuro. Afinal, as angústias da nossa geração não são angústias novas e remontam a gerações bem antigas, muito anteriores a nós.

Experiências


Na semana passada tivemos uma experiência engraçada. Já há um tempo que uma amiga minha coreana me tinha falado de uma bebida que eu tinha que experimentar, o bubble tea. Ela disse que era uma bebida muito famosa na Tailândia e ficou chocada de eu nunca tinha ter experimentado. Combinamos de ir, mas nunca se proporcinou, então achei que seria giro ir experimentar com o Cris. Bom, dá para dizer que foi uma experiência. O Cris já ficou chocado com o aspecto do lugar, que disse que era de adolescentes. Eu brinco com ele, sobre ele só gostar de lugares de velho, porque cada vez que vamos a algum lugar que as pessoas do lab recomendam ele odeia. De facto, o modelo aqui são aqueles espaços assépticos, com móveis de fórmica e a comida são sandwiches. Por mim, divirto-me, mas o Cris fica indigando, então imaginem-no a beber o bubble tea, ehehe. Vejam as fotos para ver o que é. Diga-mos que é bizarro, é um chá com uns sabores esquisitos e tem essas bubbles, umas coisas gelatinosas que não se entende o que é. Enquanto bebiamos aquilo percebi porque a Ju-Hyun disse que da primeira vez eu deveria ir com ela, porque havia uns sabores que não eram bons. Não sei se demos azar de pedir esses sabores, ehehe, mas o facto é que não gostamos.
O engraçado foi quando saímos. Com a mudança da estação o tempo anda cómico, num dia faz um calor doido, no outro está um frio imenso. Na terça~feira foi engraçado, porque de manhã estava bastante sol e à tarde saí para ir aos correios e, de repente começou a nevar. Foi muito mágico, pelo insólito.

Sunday, March 25, 2012

Primavera






Na semana passada acordamos e, de repente, a primavera tinha chegado. Olhei pela janela e tudo estava verde de relva. As árvores do estacionamento revelaram-se cerejeiras cobertas de flores brancas. Parecia que tinha passado muito tempo e não apenas uma noite. É impressionante como de um dia para o outro todas as árvores que até aqui estavam secas, de repente, se encheram de rebentos e flores. Estive a ler que as plantas tem um gene que é activado pela temperatura, mesmo que fora de época, o que acelera o processo de maturação. Empiricamente digo que é verdade. Pus aqui umas fotos para partilhar um pouco convosco.
Para vocês talvez não seja tão excitante esta notícia da Primavera, mas para nós teve um efeito. É emocionante ver toda essa cor depois de um inverno gelado (apesar de ter sido suave, segundo consta), em que não se via vida nenhuma, excepto uns esquilos fugidios, e tudo parecia morto. Assim, é muito revigorante ver toda essa vida novamente, assim como a mudança de espírito nas pessoas. Agora, para onde quer que se olhe vê-se pessoas a caminhar, crianças nos jardins. estudantes deitados na relva. De repente, tudo se tornou alegre e cheio de vida e isso faz-nos sentir revigorados, também. Apesar de lamentar o fim súbito do Inverno, porque realmente gostei da experiência, gosto desta sensação de liberdade e renovação que a mudança de estação sempre trás.

Tuesday, March 13, 2012

Um mês passou...

Agora entendo porque tanta gente tem reclamado que não actualizamos o blogg, afinal há um mês e dois dias que não escrevemos aqui nada novo. Quando até o meu pai me mandou um email a pedir actualizações achei que estava na hora de voltar.
De facto, este mês passou velozmente, nem sei em quê. A prova de que passou muito tempo é que do último post de inverno, com neve, chegámos à primavera. Esta semana surpreendeu-nos com uns dias lindos e temperaturas já de primavera (aqui não é muito diferente de Porto Alegre, na sexta-feira nevou e sábado estavam 15º, que coisa louca!). Apesar de saberem muito bem estes dias, o conforto de sentir o sol quente na cara, andar com roupa mais leve e toda a alegria do campus, pessoas deitadas na relva, inclusive a ousadia de montar uma rede no meio do campus, sinto pena de o inverno já ter passado. Ele foi tão rápido que nem deu tempo de nos despedirmos da neve. No entanto, toda a gente diz que o inverno ainda não acabou, que a qualquer altura a temperatura pode cair, então vamos ver o que nos espera...
Bom, esta descrição do tempo parece assunto de quem não tem nada para falar... mas essa foi, seguramente, a grande mudança deste último mês.
Bom, como eu dizia foi um mês que passou velozmente, de tal forma que nem deu oportunidade de actualizações. Em primeiro lugar, tivemos uma visita, a nossa primeira visita! Foi muito bom ter uma pessoa aqui em casa, partilhar vidas, rotinas e a intimidade associada a tudo isso. Percebi como já sentia saudades de ter amigos. E, claro, com amigos de fora fizemos algumas das viagens que há muito planeávamos, mas ainda não tinhamos tido coragem. Fomos a Chicago e Toronto, com o nosso carrinho que se portou à altura (excepto o zelo do Cris com o mecânico, que nos gerou uma factura que percebemos que mais valia termos ido de avião, ehehhe).
Então, entre visita de amigos, viagens e retomada o trabalho, de facto não deu oportunidade para aqui vir, mas agora tentaremos retomar. O meu pai pediu um post de Chicago com todas as fotos do Frak Lloyd Wright, então prometo que o farei em breve

Saturday, February 11, 2012

Mais um ano




Ontem, entrei no último ano da vintena. É engraçado, porque desde pequena sempre achei os 30 uma idade tão distante e, agora, estou quase lá!
Por coincidência, este foi o primeiro aniversário que passei sem a minha família, talvez para me mostrar como estou mesmo adulta. Até aqui, mesmo com a distância, sempre tinha tido a sorte de passar o dia com eles e este ano as coisas foram diferentes. Na verdade, é impossível repetir a magia dos aniversários de quando se era criança, por isso gostei desta experiência de aniversário a dois. Divertimo-nos bastante, até tive direito a busca de presentes pela casa e aproveitamos para conhcer alguns pontos gastronómicos de Ann Arbor, em que ainda não nos tinhamos aventurado. Foi uma emoção, porque de tanto pedir para nevar no meu dia de anos, caiu a maior neve, com direito a uma tempestade imensa. No entanto, eu achei o máximo, porque cresci com a minha avó a contar que no dia que eu nasci estava tanto frio em Lisboa que até nevou (acho que não é verdade, porque pesquisei nos jornais e não encontrei nenhum relato de neve nesse ano, mas essa era a forma de ela me mostrar que eu era especial e sempre achei mágico esse relato da neve exclusiva para mim e ontem aí esteve toda a neve!).
Então, foi uma óptima experiência de se viver, em particular, por se poder contar com a presença de todas as pessoas queridas à distância. O triste foi cantar os parabéns a dois, apesar do esforço do Cris em cantar as várias versões de parabéns que conhecia, faltavam pessoas. No entanto, ele comprou um bolo super bonito e pus aqui as fotos, assim sempre teremos mais audiência na nossa festa.

Tuesday, February 7, 2012

À espera de hóspedes: entre aventuras e risadas

Há poucos dias, durante a noite, saímos em uma aventura em busca de um colchão para termos a alegria de recebermos hóspedes, aventura que resultou em ótimas risadas e em um certo regozijo com a nossa capacidade imaginativa. Sem falsa modéstia, sentimo-nos orgulhos de nossa destreza para descobrirmos soluções em situações pouco vulgares. Permitam-me contar-lhes brevemente o que sucedeu. Depois de muito procurarmos um colchão confortável nos lugares convencionais, como as grandes lojas de departamento, mas sem termos sucesso, tendo em conta que os colchões disponíveis nesses lugares não são apenas cômodos, mas também impagáveis, começamos a ficar desconsolados. Lembramo-nos, no entremeio, das estratégias de sobrevivência a que tivemos que recorrer mais de uma vez depois de nossa chegada em Ann Arbor e nos primeiros dias que passamos nas terras dos EUA. Saber adaptar-se às circunstancias é um estilo de vida. A ideia de um colchão de ar pareceu-nos abominável, de modo que entramos no espírito muito estudantil da cidade em que nos tocou viver, ou seja, abraçamos uma prática comum aqui, cuja origem está no incessante trânsito de estudantes que chegam e que partem. Em um ambiente onde há muita necessidade de desapego por causa do sentido provisório que dá cor à vida estudantil na Universidade, os fluxos e refluxos são normativos e produzem uma cultura de intensa permuta, um comércio informal. Assim, ao pensarmos nisso, fomos à Internet buscar no Craiglist o que precisávamos. Sem muito esforço, tivemos êxito.

A busca do colchão, porém, foi apenas a parte trivial de sua aquisição; o que constituiu uma verdadeira aventura com laivos quixotescos foi o seu transporte pela cidade. Seguros de que conseguiríamos levá-lo no carro, fomos ao supermercado para procurar uma corda. Bem, para ser sincero, eu não estava lá muito confiante na viabilidade desse artifício, mas Eva, que é muito mais prática do que eu, sabia que teríamos sucesso no engenhoso transporte. Seguimos, esperançosos, nosso rumo até a casa do rapaz que tinha o nosso desejado colchão. Quando lá chegamos, abriu-nos a porta um rapaz com máscara para a pele. Se não fosse um tipo muito descontraído e cordial, acho que teria sido difícil contermos o riso ao vê-lo naquela triste figura, de roupão e máscara verde no rosto. Foi bizarro. Nossa aventura, contudo, não terminou aí. Depois, aconteceu algo engraçado quando finalizamos, contentes, a amarração do colchão no teto do carro. Tomados pelo entusiasmo, fixamos o colchão no teto, mas o fizemos com tanto esmero, tanto, que junto com o colchão atamos também as portas do carro. Ena! E agora? A sorte foi que deixamos uma das janelas abertas. Não houve outro jeito de entrarmos no carro a não ser como se fôssemos bandoleiros. Ah! Ah! Ah! O que importa é que ao fim e ao cabo saímos lépidos e fagueiros da aventura, prontos para a próxima. Que venham os moinhos e os exércitos de ovelhas!

Thursday, February 2, 2012

Serão saudades?!

Um episódio muito engraçado. O nosso aquecimento é um pouco barulhento e, de vez em quando, faz uns barulhos bem estranhos. Então, no outro dia estavamos, eu e o Cris na sala e ele diz "Acho que amanhã vai estar um dia bom, já se ouvem as cigarras". Podem rir, nós também rimos um monte, em especial quando abrimos a janela e sentimos a temperatura exterior! Mas a verdade é que em casa até nos esquecemos do Inverno lá fora, então ele está mais que desculpado. Além disso, a esta altura parece-me legítimo ter saudades da praia... mas, ainda não são as cigarras...

Tuesday, January 31, 2012

Habilidades de Inverno


Para quem não acredita o Cris ficou especialista em limpar o carro da neve. De início, o processo era longo, uns 10 minutos até estar tudo pronto e nós a congelar. Agora, em 3 min 47 seg o carro está prontinho! Nada como a prática para criar agilidade, ehehe.
Aqui vai a foto da nossa (dele) rotina matinal.

Redescobertas




Há bastante tempo que estou para aqui escrever, mas os dias passam tão rápido e à noite, em casa, já não tenho muita energia para aqui vir. Se bem que o meu companheiro ainda é pior que eu, ehehe. Assim, tantas coisas aconteceram que ficaram sem registo. Ficou em falta a descrição do maior nevão do ano, os flocos com 1cm de diâmetro, sem exagero.
Certamente, faltaram tantas outras coisas que marcam no momento e penso "tenho que escrever isto", e não escrevo, e esqueço.
Há dias, enquanto falava com a minha mãe, dei-me conta de como o ter estado fora da cidade, mesmo que por apenas uns dias, me fez vê-la de outra forma. Com o regresso a Ann Arbor passei a sentir que já tenho um espaço aqui. É engraçado como em pouco tempo se constrói uma história e o regresso fez-me sentir isso, que, afinal, pertenço aqui também. Gostei dessa sensação, porque me fez sentir o conforto do regresso a casa. Ao voltar, percebi que já me oriento na cidade e já reconheço os seus cheiros. Foi muito emocionante quando entrei na universidade e reconheci o seu cheiro. Foi uma experiência forte, porque nunca me tinha dado conta do cheiro do edifício, mas quando entrei nele reconheci o cheiro que me era familiar e foi quase como se fosse um reencontro. Foi um reencontro, na verdade. É impressionante como esses pequenos acontecimentos têm um efeito, porque também eu me passei a sentir muito mais à vontade e integrada aqui. Então, tem sido uma boa experiência o regresso (no entanto, continuo a morrer de saudades do barulho do mar e de deitar na areia depois de um banho gelado e sentir o sol a aquecer o corpo, até ficar um quente tão insuportável que tem que voltar a dar outro mergulho. Saudades, mesmo! E da bola de berlim depois do banho, é claro!).
Outra coisa que se foi, nos curtos dias fora, foi a capacidade de falar inglês! Meu deus, que tristeza! Parece que não falo há anos! É impressionante como em poucos dias esqueci tudo o que demorei tanto para articular! Sinto que estou a começar praticamente do princípio. Coitados dos que têm que conviver comigo e ouvir o meu inglês macarrónico. Ainda bem que eu entendo tudo o que eu falo, ehehehhe. É impressionante como aquela provazinha do TOEFL funciona e detecta as nossas fraquezas. O resultado bem que disse que tinha elevados "skills" de compreensão, mas a articulação na fala não tinha o mesmo nível. Não tem mesmo! Espero que alguma vez tenha! É bem frustrante, porque estou a acompanhar o que o outro fala, entendo na perfeição e vou para falar é uma desgraça. Bom, mas o lema aqui é não desistir. E como não tenho hipótese, não desisto. Hei-de lá chegar!
Infelizmente, não tenho muitas fotografias dos últimos dias, mas tentei pôr alguma coisa para irem acompanhando (a foto que parece um erro é a tentativa de fotografar os flocos gigantes. oxalá consigam ver...).

Sunday, January 22, 2012

De volta!

Depois de uma longa distância do blogg (e de tudo o resto, um pouco também, ehehe), apeteceu-me escrever sobre um filme maravilhoso que vimos ontem, "The Artist". Desde Dezembro que estavamos para ver esse filme, mas só ontem nos conseguimos coordenar para o ver e, seguramente, valeu a espera!
Quando vi o anúncio do filme, ele suscitou-me muito a curiosidade por me fazer lembrar o cinema de outros tempos, a que tanto me dediquei durante um certo período da minha vida e de que tanto gostava, mas que deixei de ver. No início fiquei um pouco receosa, com medo que fosse um filme "cliché", de "Crepescúlo dos Deuses", ou "Singin' in the rain", mas tal não aconteceu.
Assistir a esse filme foi uma óptima surpresa porque, de repente, me senti a viajar no tempo. Primeiro, fomos ver o filme num cinema aqui de Ann Arbor super antigo, com tecto abobadado dourado, lustre, palco de orquestra, cadeiras de veludo vermelho. Todo esse cenário, talvez tenha valorizado o filme que viamos. Afinal, esse cinema revelou-se uma óptima escolha (pena que não levei a máquina para vos mostrar o cinema), porque, por momentos também eu me sentia em 1930. Depois, durante o filme, que tratava do cinema mudo e da passagem para um novo tipo de cinema, o falado, essa sensação ia-se confirmando. Foi muito engraçado, porque como nos filmes de antigamente, também a plateia reagia ao filme, com suspiros, risos, sinais de alívio e, o melhor, no fim todos aplaudiram. Foi uma experiência muito boa de se ter!
O filme, praticamente todo ele mudo, fez-nos valorizar outros orgãos sensoriais e, talvez, por não ter diálogos, nos absorvemos muito mais no que estamos a ver, com mais intensidade. Sei que, seguramente, foi dos filmes que mais me sensibilizou nos últimos tempos.

Sunday, January 8, 2012

Jogging versus Sauntering

Aqui nos Estados Unidos o "jogging" é um bem cultural. Pode estar o maior frio, não importa, terá gente na rua praticando "jogging". Achei graça quando testemunhei este costume tão arraigado até nos parques naturais, como o Nichols Arboretum, entre as árvores dos bosques. Um dia estava com Eva, subindo devagar o vale por onde voltei a andar hoje, quando cruzamos com uma senhora que, surpresa com o nosso paço vagaroso, ao nos cumprimentar perguntou: - Onde vai este belo casal com um paço tão suave? Foi aí que me lembrei de outro estado-unidense, de outros tempos, o Thoreau, que era um fervoroso defensor da "arte de caminhar". Cada um tem seus ritmos e manias, assim como cada época tem sua relação particular com o tempo e com o espaço. O Thoreau viveu numa época que, se não era acelerada como a nossa, já estava adulando a velocidade no altar do progresso. Ele diz que mesmo na vida dele, lá nos Estados Unidos do século XIX, só chegou a conhecer duas pessoas que entenderam a "arte de caminhar". Já imaginou o que acharia do "jogging" de hoje em dia? Sobre o estilo de caminhada de que gostava, escreveu: "I have met with but one or two persons in the course of my life who understood the art of Walking, that is, of taking walks, who had a genius, so to speak, for sauntering [...]" Em seguida, passa a explicar o significado da palavra: "which word is beautifully derived from idle people who roved about the country, in the middle ages, and asked charity, under pretence of going à la Sainte Terre" — to the holy land, till the children exclaimed, 'There goes a Sainte-Terrer', a saunterer — a holy-lander. They who never go to the holy land in their walks, as they pretend, are indeed mere idler sand vagabonds, but they who do go there are saunterers in the good sense, such as I mean. Some, however, would derive the word from sans terre, without land or a home, which, therefore, in the good sense, will mean, having no particular home, but equally at home everywhere. For this is the secret of successful sauntering. He who sits still in a house all the time may be the greatest vagrant of all, but the Saunterer, in the good sense, is no more vagrant than the meandering river, which is all the while sedulously seeking the shortest course to the sea. But I prefer the first, which indeed is the most probable derivation." Assim, para Thoreau, "saunter", que no sentido estrito quer dizer deambular, era algo como caminhar pelo simples gozo da caminhada, na busca de algum pensamento, engraçado ou trágico, sobre as coisas da vida. "Let's saunter!"